19 de setembro de 2021
Foto: acervo pessoal.
Já posso imaginar esse título causando estranheza ao leitor. Ainda mais pelo fato de, até o momento, não ter compartilhado com o mundo reflexões que aparentam ser tão sombrias.
Entendo que o tema não é atrativo. Se por um lado remete a uma belíssima cidade histórica, Patrimônio da Humanidade, por outro traz um conceito que passa longe de representar conforto e acolhimento. Com certeza, é espinhoso para mim e por isso mesmo sinto essa necessidade em dividir esse sentimento com o público, tornando-lhe mais leve. Sorry, people!
E obviamente, o título causa uma certa confusão, pois afinal, qual a relação entre Paraty e a morte? Então, vou explicar.
Em uma semana de setembro, estivemos por uns dias em Paraty, cidade da qual era louca para conhecer há muitos anos. Imagina, um centro histórico combinado com lindas praias e cachoeiras, local onde são realizados eventos internacionais que inspiram arte, cultura, vida!
Nos hospedamos em uma aprazível pousada, e do nosso quarto fomos agraciados com uma linda paisagem. E claro, requisito necessário dos tempos atuais, cumpre protocolos sanitários, em uma área mais afastada do centro movimentado. Contudo, é também próxima a um cemitério público, por onde sempre passamos para os nossos deslocamentos. Tudo certo, trata-se de um espaço necessário e nada que nos impedisse de aproveitar a estadia na região.
Então, em uma certa noite, estávamos em uma praça quando fomos abordados por um morador de rua, que nos disse que o logradouro foi construído acima de um fossário. Ele estava bêbado, não sei se a afirmação é verídica e nem procurei me informar a respeito. Mas esse episódio, somando-se ao fato de passarmos sempre em frente a um cemitério real, me fez pensar muito na morte.
A experiência foi um gatilho pra lembrar de uma série de terror que assisti há poucas semanas, com cenas assustadoras de mortos-vivos, e assim a mente ficou mais pilhada! Fiquei pensando que, enquanto várias pessoas estavam se divertindo nas ruas de pedras da cidade, outras, de gerações passadas e até atuais, estavam enterradas.
Me senti angustiada com tudo isso. Poxa, esses pensamentos fúnebres não eram o que eu queria para minhas férias! E pra piorar, caiu uma triste ficha: daqui a um indefinido tempo, seremos eu e pessoas queridas que estaremos debaixo da terra, e outras desfrutarão da vida. Ainda senti despeito, imaginem só!
Uma outra chave foi ligada, porém: nem todos que estão no mundo dos vivos estão aproveitando. Milhares estão sofrendo, em suas tragédias pessoais e sociais. De um jeito torto, além de julgamentos morais, percebi que a morte nem sempre é ruim. Ou ao menos, não a pior experiência que pode ocorrer a alguém.
Após tais elocubrações, não cheguei a conclusão nenhuma. Lamento. Com certeza, os estoicos, epicuristas, estudiosos de diversas correntes filosóficas terão ponderações mais elucidativas (respostas eu não diria, esse não é o papel da Filosofia). Tradições religiosas já poderão trazer mais conforto, ainda que com respostas controversas. Da minha parte, aquela da qual muitos não dizem o nome me causa ainda um frio na espinha. Mas a experiência me chamou a atenção para algo que devo trabalhar em mim: a aceitação da finitude.
Bom, há aqueles que dirão que a morte não é o fim, e que outras vidas virão; outros, que ela é uma transformação, e que voltaremos para a Mãe Terra. Enfim, tantas especulações! O que sei é que tenho um tempo aqui na Terra (e espero que seja bem longo), e quero aproveitá-lo plenamente, dando cada vez menos espaço para pensamentos e sentimentos corrosivos. Sei que isso soa um clichê, quem sabe daqui a algum tempo trarei colocações mais profundas. Mas é o que tenho para hoje. E para essa minha cabecinha, que fervilha a todo instante, essa meta não é trivial, e sim, bastante desafiadora. Seguirei.
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