Rio de Janeiro, 26 de fevereiro de 2023
Figura criada por inteligência artificial Open Al - Dall-E.
Os leitores devem ter estranhado esse título, tão pouco usual. Calma, vou explicar mais à frente.
Quando inserimos essa palavra no Google, confirma-se: é o aumentativo de coroa. E nos deparamos com vários significados, dentre eles: adorno real; recompensa, honra, glória; moedas de alguns países europeus; dente artificial. O que chama a atenção: Brasil coloquial – adjetivo, comum de dois gêneros – pessoa de meia-idade ou que está a ficar envelhecida.
Pois então, chegamos ao objetivo dessa reflexão e crise existencial, compartilhada com vocês: fui chamada assim, meses atrás. Mais especificamente:
- Que coroona, hein!!
Bom, como eu não portava nenhum adorno na cabeça, nem ostentava moedas estrangeiras e muito menos exibia uma peça indiscreta nos meus dentes, só pude deduzir que ela se referiu a minha idade, pelo jeito visivelmente avançada.
Não sei se fiquei triste ou alegre. Se por um lado, me mostrou que já não sou mais uma mocinha (porque até os 40 anos, todos diziam que eu não aparentava a idade que tinha), por outro havia a intenção de elogiar: - você está uma coroa bonitona! Bem, eu entendi assim…
Claro, já sei que com os meus 48 anos muito bem vividos, não posso me considerar uma jovem. No Brasil, para ser classificado dessa forma é preciso ter até 29 anos. Mas, quando alguém me chamou a atenção, sem nenhuma cerimônia, a coisa mudou de figura. Não sou apenas uma coroa, eu também aparento ser uma coroa.
Racionalmente, entendo que são as tais coisas naturais da vida. Mas, o processo de envelhecer não tem sido assim tão leve.
Quando adolescente, imaginava que ter 30 anos já era ser uma senhora. Na véspera, fiquei até meio baixo-astral. Mas, quando completei essa idade, a sensação passou. Pelo contrário, me senti muito bem nessa fase, fisicamente falando. Pessoalmente, acho que estava mais bonita em relação aos 20 anos. Claro que algumas dificuldades começam a surgir. O metabolismo está mais lento e nos deparamos com algumas questões, ligadas aos relacionamentos, à carreira, aos filhos (para quem os têm).
Talvez por causa disso, sempre achei que os 40 seriam uma continuidade dos 30. Mas não, pelo menos para mim. O corpo muda bastante. Se antes o metabolismo estava lento, agora é infinitamente mais. É fácil engordar, mas emagrecer é uma luta! Na saúde, cada dia surge uma ziguezira diferente: são nódulos e pólipos que precisam ser vigiados constantemente; é a tal da vista cansada. A lei da gravidade torna-se implacável! E a pele não tem o viço faz tempo: as linhas de expressão tornam-se rugas, o peito começa a esboçar uma sanfona.
Sei que envelhecemos hoje de forma bem diferente das gerações anteriores. Há décadas, uma mulher de 40, 50 anos era mesmo uma idosa. Hoje, contamos com infinitos recursos ao nosso favor, trazidos pelas indústrias fitness e de cosméticos, pelos avanços medicinais e pelos estudos sobre bem-estar e, principalmente, acompanhados por uma mudança de mentalidade, que valoriza o amor-próprio, a saúde emocional e o lazer.
É preciso considerar também que o meu envelhecimento é diferente de uma modelo bem sucedida e, por outro lado e mais ainda, de uma lavradora que vive no sertão piauiense. A realidade faz sim, muita diferença!
Considero-me uma sortuda, pois está se consolidando um ativismo pró 40+, que traz discussões sobre as dificuldades e vivências nessa etapa da vida - principalmente pelas mulheres – decorrentes de uma sociedade que enaltece a juventude. Não à toa, estou aqui me expondo a respeito.
Contudo, nem sempre o meu mundo interior acompanha esses movimentos. Eu sinto a mudança. Na verdade, minha intenção é sofrer tudo agora para chegar plena e bem resolvida aos 50. Preciso passar pelo processo, não adianta fingir que não ligo ou pular etapas.
Apesar das lamúrias, reconheço muitos pontos positivos: não sou mais refém do julgamento social (não cheguei ao ponto de dizer, sinceramente, que não ligo. Mas estou no caminho); exerço a profissão que quis, não conto os dias para a aposentadoria; tenho vida e vitalidade para estudar e conhecer coisas novas, tanto que estou no início de uma pós-gradução, mesmo após ter passado pelo mestrado e doutorado; estou em um relacionamento amoroso e sólido, e não aceito nada menos que isso para estar acompanhada; refinei meus hábitos e gostos culturais. Se alguém me chamar para qualquer evento em que eu tenha que ficar horas em pé, digo com orgulho:
- Sem chances, tô velha pra isso!
Haverá gente que vai discordar, pois continua gostando e praticando atividades consideradas mais joviais, que de fato demandam muita energia física. E tudo bem! Eu prefiro lidar com a impermanência e encarar as mudanças como ciclos. Porém, não existem regras.
É isso.
Mas... porque estou dizendo essas coisas, mesmo?
Comments