Rio de Janeiro, 23 de agosto de 2022
Nossa estadia em Cartagena das Índias durou quatro dias, na área conhecida como “Cidade Amuralhada”. Lembro-me quando vi as fotos da cidade pela primeira vez, há cerca de cinco anos. Fiquei encantada com as imagens das casas coloridas! Até o nome, eu achei um barato! Imaginei um entreposto comercial, como as cidades italianas medievais Veneza, Florença, Gênova, Milão. Como dizem por aí, “mó viagem”! Mas pensei ser mesmo uma cidade com várias feiras e confluência de várias culturas.
Na primeira noite, como não estivemos em nenhuma casa de salsa em Bogotá e Medellín, resolvemos conhecer uma famosa na cidade: Dom Fidel. O lugar é atraente: um ambiente externo, com várias mesas, onde os clientes bebem a famosa Cerveja Colombiana; outro interno, no qual o pessoal mais animado dança. Não é música ao vivo, nada que impeça a diversão. Vende somente bebida, o que não me agradou. Mas enfim, é o estilo do lugar, e como está sempre cheio, o dono não deve se preocupar em melhorar o negócio. Aproveitamos, requebramos um pouquinho e matamos a vontade de curtir o ritmo.
Uma rua (calle) em Cartagena. Foto: acervo pessoal.
Nos dois dias seguintes, a programação era andar, andar, andar, se perder pelas calles e se encantar com os belíssimos sobrados e casarões, observar as diferentes aldabras nas portas e… suar um pouquinho.
Aldraba em formato de camaleão. Foto: acervo pessoal.
Confesso que tinha maiores expectativas em relação ao município. Tudo bem, imaginava (e fantasiava) ser um lugar comercial, mas é comercial demais! Para comer, as opções são restaurantes caros ou qualquer birosca. Não vi meio-termo. Dizem que é uma cidade musical, mas ao menos nos dias em que estivemos lá, as apresentações foram só realizadas no interior dos restaurantes. Caros. Para não ser implicante, vi que ocorrem alguns festivais em Cartagena, como o de música clássica. Infelizmente, não coincidiu com nossa estada por lá.
Claro que visitamos alguns espaços de memória, como o Palácio da Inquisição, muito interessante! Procura contar a história por meio de bons textos. Exibe um vídeo de animação, do ponto de vista de uma mulher negra que foi acusada de bruxaria e, por conta disso, levou várias chibatadas em praça pública. Havia poucos artefatos. Mas não foi a modéstia do museu que me incomodou, e sim o calor. Não tem ar-condicionado! É quase humanamente impossível ficar lá por muito tempo. Além do fato de ser prejudicial à conservação das peças. Uma pena! Também visitamos o Santuário de São Pedro Claver: a temperatura lá estava mais aprazível, sendo que o espaço conta com um museu de imagens sacras bem conservadas e, como o nome diz, homenageia o padre capelão Pedro Claver, um jesuíta que viveu entre os séculos XVI e XVII e, ao contrário do que a Igreja Católica pregava durante o período colonial, protegeu os escravizados negros. O santuário também exibia algumas pequenas exposições seculares: uma contemporânea e outra de arte africana, o que foi uma surpresa positiva!
Área externa do Santuário de São Pedro Claver. Foto: acervo pessoal.
Nas ruas, fomos procurados todo o tempo por comerciantes e ambulantes, que nos queriam vender bijuterias, passeios de charrete, viagens, e até por cantor bajulador de hip-hop. Insistentemente. À noite, principalmente após às 22 horas, os restaurantes saíam de cena para dar lugar a boates e redes de prostituição, com garotas de programa bem jovens nas ruas. Algumas aparentavam ser menores de idade.
O mar em Isla del Encanto. Foto: acervo pessoal.
No último dia, fomos para uma das ilhas do famoso arquipélago “Islas del Rosario”, próximo à costa de Cartagena. Através de uma agência, nos deslocamos em uma lancha rápida até a Isla del Encanto, que segue um padrão que adotado pelas outras ilhas, talvez com refinamentos diversos. A ilha é ocupada por um hotel, estilo resort. Nós podemos aproveitar as espreguiçadeiras e o mar desde, claro, que consumamos os produtos do bar. Sem dúvida, é uma praia belíssima! O mar é mesmo calmo, limpo, verde, quase transparente, e a temperatura da água é uma delícia, fiquei a maior parte do tempo lá. Literalmente, lavei a alma!
Não pude deixar de perceber uma ostensiva desigualdade racial e social. Sim, temos isso de sobra no Brasil, mas lá a situação é gritante! O turista entra em um restaurante caro e, junto com outros da mesma condição (quase sempre brancos) é muito bem atendido (em alguns casos, de forma quase servil, com garçons abrindo até as portas dos banheiros!), e quando vai embora, se depara com vários ambulantes e pedintes lutando pela sobrevivência, sendo a maioria afrodescendente. Alguns, com traços indígenas. Ao contrário de Bogotá e Medellín, não notei nenhuma ação para mitigar essas mazelas, ou ao menos, conter os danos. Bem, talvez seja mesmo a angústia com um espelho que reflete a nossa própria condição: o que somos e o que podemos nos tornar...
Sinto não ter trazido impressões mais animadoras. Esclareço que é uma observação pessoal, soube de outras pessoas que amaram Cartagena e claro, quatro dias não são suficientes para se conhecer a fundo uma cidade. Eu mesma, em alguns momentos, me peguei fascinada com o belo casario, com a comida deliciosa, com os sensuais ritmos caribenhos! Foi bom conhecer, mas não pretendo voltar.
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