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Foto do escritorAline Brettas

Banho frio

13 de março de 2022

Foto: acervo pessoal.



Há algumas semanas, rompi uma resistência que vinha me acompanhando desde a infância. Tomei banho frio!


Não que eu nunca tivesse tomado banho frio na vida. Já vivenciei quedas abruptas de luz, e precisei enfrentar a danada da água fria! Maassss, sempre que podia dava um jeito de fugir: “ah, já tomei banho hoje, não preciso de outro!”. Corria para a casa dos irmãos, visto que morei próximo a eles por muitos anos. E já esquentei a água no fogão, recorrendo à canequinha. Sim, eu fiz isso. O pavor era grande!


Em algumas raras ocasiões, não obtive escapatória, e precisei encarar a coisa. Não morri, é verdade, mas o primeiro contato com a água era aterrorizante! Com tal sensação, corria pra fazer o necessário e não me permitia aproveitar o momento.


Antes que pensem, já nadei em água fria. Piscina, cachoeira, mar, rio. Minha fobia não chegou a tanto. Mas é diferente de chuveiro em casa, né? Na real não, mas coloquei isso na minha cabeça por muito, muito tempo.

Ah, e não tinha isso de água morna não! Queria quente, como dizem na minha terra, esturricando! No verão, principalmente no Rio, é que permitia uma certa dosagem, mas discreta.


Certo dia, de repente, liguei a torneira no modo morno. Não sei o motivo. Havia acabado de voltar da caminhada, em pleno calor escaldante da cidade. Pensei: “por que não?”. Movi a válvula para a direita, e água foi esfriando.


Senti o choque inicial, com certeza. Mas fui me acostumando e no final já estava mais ambientada. Saí com uma sensação de frescor agradável, com cabelo e pele bem sedosos. Porém, o sentimento predominante foi a satisfação ao ter superado uma barreira e quebrado um padrão antigo. Fiquei me achando!


Na verdade, já fui assim algumas vezes, em outras situações. Desde mudanças estéticas, como a cor do cabelo, até a finalização de relacionamentos difíceis. Neste último caso, com mais sofrimento, e muito! Até tomar a decisão, foram várias reviravoltas, principalmente mentais e emocionais. Quando conseguia finalmente acabar, de repente, remoía pensamentos mil, e me perguntava “e se…”, “e se…”, “e se…”. Mas eu sabia e sentia que não tinha mais volta.

Enfim, voltando ao banho frio. Nos últimos tempos, meus primeiros banhos do dia têm sido assim, em novo “formato”. Antes de trabalhar, após a atividade física…e sempre sinto o mesmo choquinho no começo. À noite, antes de deitar, já tem que ser água quentinha, relaxante, porque tudo tem limite!


O outono já está chegando, daqui a alguns meses o inverno estará aqui (o Rio tem essas estações sim, viu?). Bom, aí não sei como vou proceder. Se precisar, mudo de novo! Afinal, não comparo temperatura da água do banho com relações complicadas. E assim, vou seguindo a vida, já imaginando as próximas barreiras que vou superar, bem como os padrões que devo mudar. E talvez, como diria Vinícius, não mais que de repente.

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