20 de setembro de 2020
Foto: acervo pessoal.
Há algumas semanas, tive a minha primeira experiência com uma lareira. Eu e o Alessandro estávamos em um chalé - na região serrana do Rio – onde havia sido instalada essa estrutura tão pouco adotada nos trópicos.
Achamos a prática uma novidade e adoramos, embora precisemos ter quebrado a cabeça para acender a lareira. Com as dicas de funcionários da pousada, vídeos no youtube e alguns sustos com as faíscas, conseguimos fazer o fogo e tivemos noites mais aquecidas no inverno fluminense (sim, ele existe!).
Nessa vivência, me dei conta que o fogo era, dos quatro elementos, o que eu mais tinha medo. E levei um tempo para entender o motivo.
As enchentes e maremotos, que são o estado mais violento da água, podem matar; fortes ventanias e furacões nos mostram a força indestrutível do ar; terremotos podem soterrar cidades inteiras! Mas, o que dizer dos corpos carbonizados por incêndios? Só de imaginar o calor, a dor, o horror, sinto um sofrimento quase que na própria pele.
Porém, uma gota d’água, um punhado de terra, uma brisa suave não machucam, pelo contrário. Agora, experimenta pisar em uma chama ou faísca, por minúscula que seja...vai se queimar! A não ser que você seja uma Targaryen (os aficcionados por GOT entenderão…).
Mesmo com essa comparação, fiquei com uma sensação de incompletude, por sentir o medo do fogo. Por quê? Afinal, ele traz calor, energia, luz...que faz o motor funcionar!
Dias depois, me veio a resposta. Nas últimas semanas, tenho tomado banho todas as noites com uma vela acesa (incoerente, eu? Imagina!). Mesmo com o medo de ela cair, o fogo espalhar pela casa toda, sei que o medo pode nos fazer ter cautela, mas também nos travar. Enfim, vou usando a mesma peça, até ela acabar.
Uma delas se encerrou, na semana passada. Achei que a última chama se apagaria rapidamente, mas ela foi se preservando com uma força não destrutiva, mas resistente. Não sei se era o pavio ou a cera derretida que a ajudavam a se manter firme. Só sei que ela continuou noite adentro. Impressionei-me com a sua resiliência e a levei para o quarto, para me acompanhar em meu sono. Quando acordei, ela já não estava mais lá, tinha cumprido bravamente sua breve existência.
Então, vislumbrei que aquela chama pode ser comparada à energia vital, que nos mantém de pé. Os materialistas vão chamar de “sinais elétricos emitidos pelo cérebro. Já os espiritualistas denominam de “alma” ou “espírito”, na visão dos ocidentais; ou “prana”, conforme os orientais.
O fato é que essa chama precisa de ser alimentada continuamente para aquecer o motor da nossa existência, seja ela física ou transcendental. O motivo? Cada um encontrará o seu.
Da minha parte, já não tenho mais o mesmo medo do fogo.
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