Crônicas e conteúdo sobre muitas coisas
A escrita
Não faz poucos anos iniciei a jornada de entendimento de mim mesma. Já faço terapia há mais de uma década, mas mesmo antes já tinha ensaiado algumas buscas: através de psicanálise interrompida, mas também de outras atividades introspectivas, como leituras, ioga (também abandonada por muitos anos), tarô.
Concomitantemente à terapia, caminhei por algumas práticas com propostas curativas (ao menos as via assim), como danças, e atividades que atuam mais no plano energético – essas das quais os crentes se referem como “espiritualistas” ou “integrativas”, e os céticos, como “pseudocientíficas”. Bem, passando ao largo desses debates polarizados de redes sociais, hoje vejo que tudo contribuiu, de alguma forma, para a pavimentação da Aline de hoje, que encontra-se um pouco mais forte e menos refém dos acontecimentos externos e das tempestades internas. Claro, a passagem do tempo colaborou também.
Porém, nesse processo de busca de conhecimento e sentido (com pitadas de crises existenciais), que penso ser pra vida toda, nada tem me ajudado tanto quanto a escrita terapêutica.
Comecei em 2018, em um caderninho menor, presente do Alessandro há anos. Começou com definição de metas (tipo listinha de Ano Novo e algumas ainda não cumpri!). Em seguida, a prática ficou mais frequente.
Passei a anotar muita coisa: situações cotidianas que incomodam, fantasias sobre o presente e o futuro, sonhos. Sentimentos e sensações ganharam uma concretude ao serem transferidos para o papel e que, podendo ser mais organizados, ajudam e muito a ter um entendimento mais lúcido e claro de muitas aflições.
Escrever me ajuda a conseguir mais distanciamento e perceber que dou um tamanho muito maior às situações (e pessoas) desagradáveis. E com o tempo, a ansiedade vai ficando menor. Não que os problemas sejam resolvidos de um dia para o outro, mas aos poucos o peso vai se esvaindo nas letras manuscritas.
Em 2020, resolvi também registrar e destacar as conquistas, aquelas pequenas grandes vitórias que só nós sabemos. Afinal, porque ressaltar só a sofrência, não é mesmo?
No momento, escrevo num caderninho especial: “Nascimento de Vênus”, de Botticelli. Nada mais sugestivo para quem está sempre à procura do renascimento constante. E no início do caderno, já anotei as metas (algumas velhas e outras novas) e as leio todas as noites, antes de dormir. Quem sabe o cérebro, durante o sono, não internaliza melhor essas proposições? Risos. E quem sabe, passo a aceitar que sempre faltará algo, e através dessa compreensão ficar cada vez mais em paz? Acho que estou no caminho.
Óbvio, as anotações terapêuticas só são compartilhadas com minha psicóloga. Algumas são sigilosas, nem ela sabe! Já as que resolvo dividir com o mundo, passei a transformar em crônicas.
Aline Brettas
Neste espaço, sou uma pessoa em constantes dúvidas e reflexões, com a vontade de compartilhar minhas impressões sobre as coisas da vida. No mais, uma mineira de Beagá vivendo no Rio, casada, sem filhos e com muitos sobrinhos, historiadora e doutora em Ciência da Informação, pesquisadora da EBC, hoje pós-graduanda em Gestão e Produção Cultural, praticante de pilates e tantas outras coisas, encontrando o refúgio e buscando a criatividade por meio das palavras.